SOBRE FUTEBOL

Opinião de Juvenal Brandão, Treinador de Futebol UEFA Pro (Grau IV), Licenciado em Gestão de Desporto

É melhor começar logo pelo título para não deixar dúvidas: futebol sem adeptos não faz sentido. Ponto. E também me parece que o desporto em geral, e o futebol em particular, estejam a ser tratados de forma marginal. Tem havido permissão para espectadores em tudo e mais alguma coisa e no futebol ainda não se passou de cinco ou seis testes-piloto. Foram autorizadas touradas, concertos, cinemas e fórmula 1, por exemplo, tendo este último, com 27.500 pessoas, corrido muito mal na organização, o que levou inclusive a que o Moto GP, que tinha prévia autorização, agora já seja sem público.

Apesar de se entender a dificuldade de quem toma decisões no momento, e da complexidade da entrada e saída de pessoas nos estádios de futebol, assim como a sua permanência nas zonas exteriores, a dualidade de critérios nos diferentes eventos não se entende, e as justificações não convencem. Até porque o futebol tem sido talvez o maior exemplo de organização e cumprimento de regras na sociedade desde que há pandemia.

Convém não esquecer que da mesma forma que outros segmentos de mercado vociferam contra os confinamentos ou redução dos horários, por quebras de receitas e consequente risco de perdas de emprego e falências, o futebol é hoje em dia um negócio que envolve milhões, nomeadamente nos impostos que os clubes e profissionais da modalidade têm de suportar. O FC Porto, por exemplo, em entrevista recente de Pinto da Costa, disse que no segundo trimestre de 2020, quando estavam a ser jogados já jogos sem adeptos, teve de pagar cerca de 20 milhões de euros de impostos.

Além dos impostos a perda de receitas de bilheteira tem sido uma enorme fatia dos orçamentos dos clubes de futebol.

No entanto, e no que toca ao jogo em si, a falta de adeptos também se reflecte. E reflecte-se nomeadamente nas equipas ditas “grandes”, naqueles que têm mais adeptos. Os jogos à porta fechada têm, de certa forma, rebatido a grande diferença, na maior parte dos casos, havendo resultados mais imprevisíveis, fruto da perda de preponderância do “factor casa”.

Mas há equipas, por muito que todos digam que os adeptos têm feito falta, para as quais parece que jogar sem adeptos tem sido bom. Há clubes onde a impaciência e intransigência dos adeptos é maior e, sem saberem, ou terem consciência, prejudicam mais do que ajudam, com assobios e críticas constantes. O Sporting, que por estes dias lidera a classificação, fruto de 5 vitórias e 1 empate (contra o campeão FC Porto), em 6 jogos, é, na minha opinião, o caso mais sintomático. Num contexto de muita juventude e inexperiência em grandes clubes e grandes palcos, a equipa tem conseguido ultrapassar adversidades dentro dos próprios jogos e somado mais pontos do que todos os concorrentes. Há quem diga sempre que o Sporting só aguenta até ao Natal, mas interessa que esta reflexão dos adeptos possa ser feita, dando tranquilidade à sua equipa durante os jogos, assobiando e atormentando o adversário ao mesmo tempo, e pronunciando-se de forma clara no final do encontro. Tinha tudo para ser melhor.

Que possa servir de reflexão, pelo menos.