Pedro Silva Sousa: Não há assunto mais importante do que este

a opinião de Pedro Silva Sousa
Nihil obstat
Sei que aqui pelo burgo gostamos de temáticas mais caseiras. Os nossos assuntos, as nossas questões particulares, as nossas eleições autárquicas, as nossas eleições presidenciais e, nunca esquecendo, os nossos processos-crime mediáticos.
O mundo, de uma certa maneira, começa e acaba em Portugal, em relação ao resto limitámo-nos à confortável posição de espectador e assistimos à política internacional quase com a mesma postura de quem assiste um filme no cinema. Para isto, certamente contribuiu muito a nossa histórica posição periférica na Europa.
Todavia, será avisado dizer que esta realidade mudou. Muito (e eu até diria demasiado) do nosso futuro coletivo decidir-se-á fora do nosso retângulo, as dinâmicas centrais do nosso tempo não passam pelo nosso país, nem sequer pela Europa e os europeus de hoje (sim, os portugueses e paredenses de hoje), vêm se no mundo instável, perigoso e que parece se contruir sobre novos valores.
À minha geração, nascida bem dentro da década de 1990, foi dito que as guerras tinham ficado para trás, assim como os regimes totalitários e opressivos. O futuro, desse por onde desse, iria ser composto por democracia, paz, liberdades, livre circulação, crescimento económico e desenvolvimento tecnológico.
Em 2025, atrevo-me a dizer, só a última dessas promessas se concretizou e as consequências desse desenvolvimento tecnológico também se saldaram em desinformação, noticias falsas, intervenções ilegítimas em processos eleitorais e insegurança em relação aos dados sensíveis dos cidadãos comuns.
Na passada segunda-feira Donald Trump tomou posse como 46.º presidente dos EUA. Da sua equipa de governação fará parte um multimilionário, proprietário de uma rede social, que nas últimas semanas tem tentado, ativamente e à vista de todos, influenciar eleições em países europeus, no caso a Alemanha e o Reino Unido. O cenário a que temos assistido é tão distópico que a descoordenada saudação nazi feita pelo próprio no próprio dia da tomada de posse quase que passa despercebida.
Sei que há quem discorde e considere mais importante falar sobre temas que nos são geograficamente mais próximos. Com todo o respeito por essas opiniões, digo: no meu entender estão erradas. Não há assunto mais importante do que este.