SOBRE FUTEBOL

Por Juvenal Brandão, Treinador de Futebol UEFA Pro (Grau IV), Licenciado em Gestão de Desporto

Em 2014/15 o Benfica foi bi-campeão com Jorge Jesus, que ao fim de 6 épocas saiu do clube para o rival Sporting. Chegou à Luz, vindo de Guimarães, Rui Vitória e foi bicampeão em 2015/16 e em 2016/17, mas falhou o pentacampeonato em 2017/18 frente ao FC Porto do recém-chegado Sérgio Conceição. O técnico dos encarnados foi posto em causa e em 2018/19, após ultrapassagem dos dragões, acabou por ser substituído na parte final da época por Bruno Lage, vindo do comando técnico da equipa B. Lage deu o título ao Benfica e apostou em João Félix, que viria a ser vendido por históricos 120 milhões. Esse estado de graça permitiu ao técnico renovar até 2023 auferindo cerca de 2 milhões de euros por época. Agora era Sérgio Conceição que estava sob contestação, que foi aumentando em 2019/20, tendo mesmo o treinador colocado o lugar à disposição, em janeiro, após a perda da Taça da Liga. Pinto da Costa não aceitou e depois de estar com 7 pontos de desvantagem à 19ª jornada, o que é certo é que neste momento, o FC Porto é 1º classificado, a 5 jornadas do final da Liga leva 6 pontos de vantagem e vence no confronto directo com o Benfica, o que lhe dá grande margem para vencer 3 jogos em 5 e voltar a ser campeão. Enquanto isso, Bruno Lage passou de herói a vilão e após perder com o Marítimo, esta semana, pediu a demissão, que foi aceite por Luís Filipe Vieira. O presidente assumiu publicamente ser o principal responsável pelo desastre benfiquista. Enquanto Vieira e os outros presidentes não perceberem que uma derrota, ou uma época má, não podem colocar em causa um projecto, continuarão a ser os principais culpados. Incomoda-me que não sejam as pessoas do próprio clube (desde direção a adeptos, essencialmente) a criar condições para estabilidade e sucesso e sejam sempre os primeiros a criticar fortemente levando a crises difíceis de ultrapassar. Podemos perceber, ou não, as decisões dos treinadores, podemos gostar ou não da forma de jogar das equipas, mas ninguém mais do que os treinadores quer ganhar, por isso tomam as decisões que tomam a pensar que são as melhores. Mas muitas vezes cometem erros, erros que podem levar as equipas para momentos menos felizes; só que a forma como os presidentes tratam deles, fazem toda a diferença. Pinto da Costa, nisto, foi, e é, inigualável.

O defesa central do Sporting, Jérémy Mathieu, de 36 anos, contraiu uma lesão de alto grau no ligamento no treino de 24 de junho. No terceiro ano ao serviço dos leões, o francês, com passagem pelo Valencia e oriundo do Barcelona, teve um desempenho brilhante em Portugal e foi um dos indiscutíveis, somando 106 jogos e marcou 9 golos, mostrando um nível acima da média. O seu lado pessoal é desconhecido pelo grande público, mas as manifestações dos colegas de equipas e antigos treinadores mostram uma admiração e um carácter exemplar. Em final de contrato, discutia-se a renovação ou até a passagem para os quadros técnicos do clube, integrando, eventualmente, o futebol de formação. A lesão contraída obrigou-o a terminar precocemente a carreira. Não merecia ser desta forma. O Sporting tem de proporcionar a Mathieu uma despedida condizente com o valor humano e desportivo do jogador. Não conheço em profundidade a lesão, mas parece-me ser de equacionar a renovação do contrato do atleta para que pudesse, após recuperado, fazer uma última época como jogador. Era mais do que justo.

Após a retoma do campeonato, devido à pandemia, FC Porto e Benfica têm perdido pontos de forma inesperada e apresentado um futebol abaixo do desejado pelos seus exigentes adeptos. Em cinco jogos, os dragões perderam em Famalicão e empataram em casa do já despromovido Desportivo das Aves, enquanto que as águias empataram com Tondela e Portimonense e perderam com Santa Clara e Marítimo – o Benfica só ganhou 2 dos últimos 13 jogos. No entanto, parece-me oportuno apontar, e quando tanto se discute a qualidade do futebol português, que tenho visto jogos de grande qualidade, como o Famalicão-Braga, Moreirense-Famalicão, Braga-Vitória SC e Rio Ave-Braga, por exemplo. Como era bom que se falasse mais dos bons exemplos, mesmo que eles não venham dos ditos 3 grandes do futebol português.