É notório que, nos tempos que correm, poucos estão virados para palestras de princípio e fim. Aliás, em todos os princípios de ano há algo da frustração do domingo à noite que se destapa nas pessoas à segunda-feira de manhã. E se as expectativas dificilmente se cumprem, é certo que não esquecemos o gesto de varrer da boca o sarro ou o sabor a cinza, um e outro sempre desagradáveis. Claro que os primeiros dias do ano, de todos os anos, exigem que os abracemos com muito heroísmo, tal como todos os inícios de semana, já que é urgente as pessoas teimarem em viver ou, pelo menos, sobreviver a todos os cansaços e desilusões com que somos presenteados todos os dias, na sem esperança de se encontrar a luz. Não perdemos o objetivo da palavra, de uma palavra de fé, mais do que de esperança, que aos poucos se forma com letras e com palavras se formam as frases, embora cada vez mais o valor das palavras ande neste país e neste momento pelas ruas largas da amargura. Neste tempo de tecnologia avassaladora, as ideias sensatas desvalorizam-se a cada esquina e são tidos por empecilhos para os intelectos dos que percorrem todas as ruas do videirismo, assessorados, geralmente, por todos os tipos de “cabos de ordens”, atentos veneradores e obrigados! Sucede, naturalmente, que toda a pessoa, pesada nua em balança de verdade, só vale quando as ideias que tem na cabeça se encaminham no sentido do bem comum, sem floreados demagógicos, interesses pessoais, em detrimento do todo posto em causa, ou na manutenção de privilégios que extravasem o limite devido pelo exercício público de funções. As nações, tal como os homens, necessitam (pedem mesmo) de um projeto para o futuro. As pessoas procuram em termos sociais, perceber o que estamos a construir, ou seja, que trajeto iremos percorrer, em que direção e com quem estabeleceremos o diálogo projetivo das nossas legítimas esperanças e ambições, o que dará sentido às decisões do coletivo nacional. O problema português, não será só de Portugal, é que a “cunha” tem uma força crescente na nossa sociedade, o que condiciona a verticalidade e transparência da postura das pessoas, fomenta o compadrio e promove a injustiça. De tal decorre o motivo de que muitos não conseguem um reconhecimento das respetivas capacidades e, por tal, imaginam as mais diversas formas de obterem facilidades para a sobrevivência social. É claro que os princípios éticos das relações entre os cidadãos desaparecem ou são subvertidos e, em muitos casos, prevalece a lei do salve-se quem puder. Verificamos que a capacidade criadora dos portugueses pode reconhecer-se em variados períodos da nossa história, manifestando-se fecunda sempre que se pode exprimir em liberdade. Estimulá-la é, por conseguinte, um imperativo que se há-de impor no período que atravessamos. É que se assim não for, teremos um papel cada vez mais secundário na definição dos nossos próprios destinos e, por maiores que pareçam os lucros financeiros de algumas empresas ainda de nome português, continuaremos a ser, como sugere o atual governo, um país de emigrantes, agora também dentro do nosso próprio país. E não é com boys, tais como casos da EDP ou Águas de Portugal, que se resolvem os nossos problemas, antes pelo contrário. É exigível que Portugal aumente, cada vez mais os níveis de escolaridade, que à qualidade do ensino, à direção dos conhecimentos, ao acesso aos graus de aprendizagem e as dotações para a investigação científica sejam opções em que todos nos possamos comprometer, sem facilitações, sem falsificações, mas, ao contrário, com a determinação dos portugueses que no passado partiram para as Descobertas.