14 Maio, 2025

Adriano Campos: “O Bloco é a voz de quem trabalha, de quem luta e não se cala”

IMG_8497

Adriano Campos é natural de Rebordosa e é segundo na lista do Bloco de Esquerda pelo círculo eleitoral do Porto às próximas eleições legislativas, esteve na redação do nosso jornal para uma entrevista onde partilhou, com franqueza e convicção, as linhas principais da proposta bloquista para o país e, em particular, para o distrito. Entre críticas à política de habitação, denúncias da precariedade no trabalho por turnos e alertas para o crescimento da extrema-direita, Campos assumiu-se como “parte de uma geração que não se resigna” e que acredita que “o Parlamento deve refletir a luta das pessoas comuns”.

Adriano Campos traça um diagnóstico sombrio da atual situação política. “O país foi atirado para eleições de forma precipitada, num contexto de desconfiança e desgaste. E, ao mesmo tempo, cresce uma direita radicalizada que quer pôr em causa direitos fundamentais. Não podemos fingir que não está a acontecer.” A esse cenário, contrapõe o que chama de “resposta sólida da esquerda comprometida com quem trabalha, com quem estuda, com quem vive com rendas incomportáveis ou salários que mal chegam ao fim do mês”.

Entre as propostas do Bloco de Esquerda, destacou três prioridades fundamentais para esta campanha. A primeira diz respeito aos trabalhadores por turnos, que considera “os grandes invisíveis do país”. “Estamos a falar de cerca de um milhão de pessoas que trabalham à noite, aos fins de semana, em horários que desregulam a saúde e a vida familiar. Não é aceitável que esses trabalhadores ganhem o mesmo que quem tem horários fixos e previsíveis.” O Bloco propõe, nesse sentido, um acréscimo salarial de 30% para o trabalho por turnos, o direito ao descanso ao fim de semana pelo menos duas vezes por mês e a antecipação da idade da reforma para estes profissionais.

A segunda grande bandeira do Bloco é a habitação. “No distrito do Porto, os preços das rendas subiram mais de 60% em poucos anos. Há concelhos como Gondomar ou Paredes onde as famílias estão a ser empurradas para fora porque simplesmente já não conseguem pagar. A nossa proposta é clara: travar esta escalada com um teto às rendas, à semelhança do que já se faz noutros países europeus.” Campos sublinha que o modelo proposto se aplicaria apenas a novos contratos e que é “uma medida de justiça social, não um ataque à propriedade”.

A terceira proposta em destaque é a criação de um imposto sobre grandes fortunas. “Queremos taxar patrimónios acima dos três milhões de euros, com uma taxa progressiva que pode ir até 3%. Estamos a falar de menos de 1% da população. Só com essa medida, poderíamos arrecadar cerca de 168 milhões de euros por ano. Dinheiro que faz falta para construir residências universitárias, reforçar os tribunais ou financiar o Serviço Nacional de Saúde.”

No plano político mais geral, Adriano Campos realça a importância de um combate claro à extrema-direita. “A nossa geração não pode normalizar o ódio, o racismo, a misoginia ou os ataques à liberdade académica. Quando vemos uma universidade a ceder à pressão de uma embaixada estrangeira e a cancelar uma conferência por razões ideológicas, percebemos que há sinais preocupantes de erosão democrática. E não podemos ficar calados.”

Sobre possíveis acordos pós-eleitorais, mantém a porta aberta, mas com condições. “O Bloco nunca virou a cara ao diálogo, mas também não abdica das suas convicções. Não aceitaremos um acordo que deixe de fora o teto às rendas, a valorização dos salários ou o reforço dos serviços públicos. A política faz-se com firmeza e não com cedências ao centro ou à direita.”

Interpelado sobre o apelo ao chamado voto útil, foi perentório: “O voto útil é uma armadilha. Foi esse voto útil que deu uma maioria absoluta ao PS que acabou em colapso. Os eleitores sabem que o Bloco esteve sempre do lado certo, a propor soluções, a lutar por justiça, mesmo quando isso não era popular.”

Adriano Campos fez ainda questão de deixar uma mensagem aos eleitores do concelho de Paredes e de toda a região do Vale do Sousa. “Há décadas que esta zona é tratada como periferia, como reserva de mão-de-obra barata. Chega. As pessoas aqui têm direito a transportes dignos, a escolas bem equipadas, a centros de saúde com médicos. E isso só se conquista com luta e com representação firme no Parlamento. É isso que me proponho a fazer.”

Com um discurso assente na experiência de quem cresceu fora dos grandes centros e na convicção de quem acredita que a política deve servir os de baixo, Adriano Campos encerra a entrevista com um apelo simples: “No dia 18 de maio, escolham quem nunca vos virou as costas. Escolham quem esteve sempre do vosso lado. O voto no Bloco é o voto em quem não desiste.”