Professor Ismael Moreira da Silva colocado a 350 km de casa enfrenta desafio em Queluz

Em 1994, o dia 5 de outubro foi proclamado pela UNESCO como o Dia Mundial dos Professores. De modo a retratar a realidade de tantos professores pelo nosso país, conversamos com o Professor Ismael Moreira da Silva.

O professor tem 26 anos e é natural de Paredes, e atualmente, encontra-se a lecionar em Queluz, que corresponde a uma distância de 350 quilómetros de casa.

Começa por destacar o quão esta situação “afeta negativamente a minha vida a vários níveis”. Ismael explica que no plano da saúde e bem-estar, “passo várias horas em transportes públicos (cerca de 9 horas por semana), muitas vezes sem almoçar e sem jantar, quando poderia usufruir desse tempo para realizar atividades desportivas ou de lazer”.

No plano familiar, “abdico, muitas vezes, de convívios familiares, festas de aniversário (não festejo o meu dia de aniversário em casa, com a família; também não festejo o aniversário da minha mãe, por exemplo). Andei um ano inteiro sem saber o que é ter um domingo, pois, logo a seguir ao almoço, tinha de me preparar para a viagem”.

No plano económico, “estar deslocado sem qualquer tipo de apoio limita, e muito, a minha independência financeira, tendo de prescindir de férias, idas ao teatro, ao cinema, entre outros. É um adiar sistemático dos nossos sonhos e projetos de vida. Aliás, mesmo a trabalhar, ainda dependo financeiramente da minha mãe, uma vez que só com o meu ordenado não consigo fazer face às despesas que, mensalmente, tenho: cerca de 700€ entre renda e viagens. Se não tivesse esta retaguarda, seria impossível estar deslocado sem beneficiar do apoio à deslocação. Por isso é que me sinto tão revoltado ao ver colegas que usufruirão de um apoio mensal de 450€ e eu (como muitos outros colegas) não. É uma injustiça”.

No plano profissional, “a docência é uma profissão em que se tem de trabalhar fora da escola. Perder tantas horas em viagem acaba por afetar o meu desempenho e rendimento. Sou professor por gosto, pelo que adoraria dinamizar mais atividades, mas que, por não ter tempo, não consigo”.

Ismael Moreira da Silva leciona no Agrupamento de Escolas de Queluz-Belas e vê com desagrado o facto de a sua escola não constar da lista de escolas “carenciadas” que receberão os apoios à deslocação de até 450€. “Sentimo-nos altamente injustiçados, revoltados, desalentados e questionamos mesmo se, realmente, foi para isto que estudamos. Aliás, acredito que muitos de nós possamos mesmo pensar em desistir, pois falamos de vidas adiadas”, explicou. O professor destaca ainda que “não há escolas carenciadas: há docentes carenciados que, por falta de apoios e de condições de trabalho, não se sujeitam a vir lecionar para a capital”.

Leia a reportagem completa na edição do jornal “O Progresso de Paredes”, do dia 18 de outubro de 2024, edição nº3594.