24 Abril, 2025

Mário Camilo Mota: Caí ou não Caí! Eis a questão!

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a opinião de Mário Camilo Mota

Olhar Além das Laranjeiras

 

Na última semana adensou-se a fumaça da empresa familiar de Luís Montenegro, o primeiro ministro que cometeu um erro. E o lapso foi não se ter desfeito por completo da empresa familiar que criou quando estava fora da política porque inevitavelmente o que esta empresa trata é um enorme “networking” realizado por alguém que nasceu, viveu e respira política.

Não havendo, para já, qualquer indício de ilegalidade ou de irregularidade, a decisão de Luís Montenegro foi sendo apenas isso mesmo: uma falha, um desleixo, mas, para todos os efeitos, apenas um erro. Sabendo nós que estes assuntos são pensados e tratados “ao mais alto nível”, ou seja, por quem sabe, toda a gente e até um primeiro-ministro pode cometer um erro, por muito amador que seja, reconhecê-lo e recuperar a partir daí.

Mas o primeiro-ministro não quis reconhecer o erro. Por teimosia ou estratégia, recusou-se a ceder às pressões do Chega, dos jornalistas, dos deputados no Parlamento e do Presidente da República. Em vez disso, optou por respostas seletivas, silêncios inexplicáveis e gestos de indignação, culminando em vitimização. Cercado pelos seus ministros, Montenegro ensaiou uma manobra tática inteligente (uma semi-moção de confiança que causou divisão na oposição), mas que não passa disso: uma manobra tática.

A política permite este tipo de táticas e Montenegro começa a ser habilidoso nesse jogo, o que para mim não é uma vantagem tendo em conta o desempenho do anterior primeiro ministro e a natural comparação com os seus diretos adversários atuais nos partidos de oposição. Considero que este não era o momento para táticas. Era o momento de reconhecer o erro, desfazer-se da empresa que sempre dependeu dele e dos seus contactos, pedir desculpa e seguir em frente. Era óbvio que a família direta de um primeiro-ministro não deve continuar a receber pagamentos de empresas privadas que dependem dos seus contatos e amizades. Não deveria ser necessário explicar isso e deveria ser essa a postura de alguém que definiu como prioridade o combate á corrupção, nesta legislatura.

Neste momento, é impossível prever o resultado desta crise política. É possível que a oposição, liderada pelo PS, transforme uma vitória certa sobre o Governo numa derrota completa, daí que se possa dizer que a manobra tática de Luís Montenegro foi realmente habilidosa. Mas, nesse caso, a pergunta que se coloca é: Luís Montenegro não prometeu ao país que os tempos das habilidades dos Socialistas, á moda de António Costa tinham acabado?

Em novembro de 2023, Luís Montenegro enfatizou a necessidade de recuperar a credibilidade e confiança política após a queda do governo de António Costa. Hoje, diante de uma crise política, Montenegro opta por manobras táticas em vez de transparência, arriscando a confiança dos eleitores para uma vitória a curto prazo. Essa escolha pode custar caro ao Governo e ao PSD. Saberemos se essa aposta valeu a pena, mais cedo ou mais tarde.