24 Abril, 2025

Amândio Ribeiro: A banalidade da corrupção

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a opinião de Amândio Ribeiro

Palavras de Bolso

 

A sociedade portuguesa atual critica os constantes casos de corrupção, mas os poderes instituidos resistem a compreender sobre como funciona e como a atacar, pois, para eles, o sistema político é inalterável. Com esse argumento,  defendem que, independentemente de quem quer que assuma quaisquer cargos públicos, nunca vai mudar. E assim a corrupção já se tornou algo banal na nossa sociedade.

A corrupção na política é associada pela população, na maioria das vezes, pelo desvio de dinheiro público, onde a finalidade será o próprio político. Porém, a corrupção social é a mais grave, pois há nítidos sinais da sua banalização. A compreensão sobre o que é corrupção é associado a algum ato considerado imoral numa sociedade onde foi praticado. Com a incuria politica na sua regulação e punição o ser humano está condenado ao atraso na resolução da corrupção.

Na corrupção, todos os indivíduos envolvidos no processo se tornam imorais, independente da sua atuação, seja ela direta ou indireta. Quando a atitude é considerada imoral, os indivíduos que atuaram de forma indireta vêem uma maneira de escapar da punição que deveria ser aplicada sobre os mesmos, pois mesmo que seja apenas uma observação de um indivíduo sem vínculo com o processo, é  sua obrigação denunciar o ato que o mesmo passou a ter conhecimento que é praticado.

O ser humano é individualista, pois utiliza métodos, argumentos e ideias para defender interesses pessoais, onde a finalidade é ele mesmo. É notório quando ele utiliza a porta de escape (não sabia de nada) para não ser condenado, mantendo assim a sua impunidade. O que torna o ser humano individualista é o seu egoísmo que se consolidou na sociedade.

Com o filósofo do renascimento italiano e pai da Ciencia Política, Nicolau Maquiavel, aprendemos que o poder corrompe o ser humano. Bem antes de Maquiavel, o filósofo grego Platão, na sua obra República, já chamava a atenção para o fato de como a riqueza tende a corromper os costumes e a sociedade. Para Platão tanto a riqueza quanto a pobreza são fatores de corrupção, já que a primeira pode dar origem ao luxo e à preguiça, ao passo que a segunda, pode dar origem à baixeza e a maldade e ambas incitam ao gosto pela novidade. Tanto Platão quanto seu discípulo Aristoteles, falavam das formas degeneradas ou corrompidas de governo: para cada governo justo, afirmava Aristoteles, existe a possibilidade de que o mesmo degenere e se transforme  num governo injusto, como a tirania, a oligarquia e a demagogia.

Com a criação do Estado moderno a corrupção invadiu a esfera administrativa, por meio da ação de pessoas que se apartam do respeito aos princípios preestabelecidos e constitucionalizados que deveriam reger a atividade pública.

E na França iluminista do século XVIII Montesquieu afirmava que: “a corrupção de cada governo começa quase sempre pela dos princípios”.

Nos nossos dias notabilizam-se os casos de corrupção através de subterfúgios como o nepotismo, favorecimentos, privilégios, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e outras condutas incompatíveis com o interesse público.

Os dados obtidos pela ONG Transparência Internacional, revelam o tamanho da corrupção no nosso país. Portugal teve o pior resultado de sempre no Índice de Perceção da Corrupção em 2024, ficando na 43ª posição entre os 180 países avaliados. O declínio tem sido contínuo desde 2015 e esta queda de nove lugares foi impulsionada, principalmente, pela “perceção de abuso de cargos públicos para benefícios privados”, em casos como a Operação Influencer e pelas “fragilidades na implementação de política anticorrupção”.

Vivemos em Portugal um período duro de julgamentos, falcatruas, mentiras, compadrios, subornos, violência etc, e tudo isso deixa-nos desanimados, sem vislumbrar luz no fim do túnel. É importante não nos deixarmos abater por todo esse processo de podridão político-econômica que gera um fardo muito pesado sobretudo para os mais sofridos e pobres.

O corrupto em Portugal sente-se poderoso, não tem freios, advoga em causa própria e usurpa o dinheiro que seria destinado à saúde, à educação, e, assim, nós vamos, complacentes, aceitando o status quo que eles criaram.